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Minha conversão na longínqua Indonésia

Minha conversão na longínqua Indonésia

Intenções do Apostolado da Oração, de janeiro 2018: pela evangelização das minorias religiosas na

Ásia, que os cristãos bem como pessoas com outras crenças possam viver sua fé com toda liberdade.

Pediram que eu contasse a história da minha conversão. Coincidiu com o dia 29 de janeiro, dia de

Evangelização dos povos. O Evangelho do dia contava a visita de Jesus à região dos gerasenos, terra dos

pagãos. Lá, Jesus encontrou um homem possuído por um espírito impuro. Jesus libertou o homem do

demônio e o mandou que voltasse para casa, para junto dos seus. “Vai e anuncia-lhes o que o Senhor em sua

misericórdia fez por ti” (Mc 5, 1-20). E o homem tornou-se, então, missionário na sua comunidade.

Assim, foi a minha conversão, nos idos dos anos 1960, na longínqua ilha de Java, que faz parte do

arquipélago da Indonésia, no Sudeste Asiático. O país era pobre, recém-saído do período colonial holandês.

Tinha apenas 15 anos como nação independente. País jovem, ainda em construção, envolto num conflito

ideológico, fruto da Guerra Fria. Eu era um pré-adolescente, descobrindo a fé no Deus único, a salvação por

seu Filho, Jesus, e a fabulosa presença de nossa Mãe, Maria Santíssima.

Me lembro da pequena cidade na província central da ilha. Um velho colégio com salas de teto alto. A

capela de Maria Imaculada era anexa à escola. Uma vez por semana, junto com alguns colegas da escola

pública, eu frequentava as aulas da catequese. Ainda guardo o livrinho com carinho. Padre Mauro Pasquarelli

– missionário do Sagrado Coração de Jesus – era brasileiro, paulista de Bauru, alto, bem diferente de suas

pequenas ovelhas. Calmo e paciente, dominava a bahasa, a língua oficial do país, apesar do forte sotaque

estrangeiro. Tinha vindo da paróquia da capital da municipalidade, distante 15 km, com seu pequeno Fiat

Uno branco.

A missa aos domingos era muito concorrida, reunia cerca de trezentos fiéis convertidos. A Liturgia ainda

era a pré-Vaticano II. O celebrante ficava de costas para a assembleia. As principais orações eram cantadas

em latim. Me impressionava a beleza dos cânticos gregorianos de Kyrie eleison e Glória in excelsis Deo. A

consagração do pão e do vinho era o ápice da festa, com o tilintar do sininho. Era um momento eletrizante,

mas também de reverência e silêncio. Era tão marcante a Eucaristia para mim, que, em casa, eu repetia,

com amigos, num pequeno altar, as orações do ritual da cerimônia.

Aprendemos na catequese os principais ensinamentos da Igreja. O Antigo e o Novo testamento. Tudo era

novidade, acompanhado de fervor espiritual. Eu acreditava que o Espírito Santo atuava nesse processo. A

religião majoritária no país era o Islã. Seu Deus, Allah, aclamado o Grande, o último profeta. Os

muçulmanos, segundo o Alcorão, acreditam que os árabes descendem também do pai Abrãao e que Jesus foi

um de profetas do Allah. Ouvíamos em todos os cantos as cinco orações diárias que eles rezavam,

amplificadas pelo som nos altos minaretes das mesquitas da cidade.

Como pertencia ao grupo minoritário de origem chinesa não professava nenhuma crença monoteísta. Os

descendentes de chineses, seguidores da doutrina taoista, praticavam cultos aos antepassados e a divindades

da natureza, uma espécie de ministros celestiais que gerenciam a ordem do universo. Não havia conceito de

Deus para louvar e adorar, sendo considerado simples manifestação cultural. O padre não opinava muito

sobre certo grau de sincretismo. Aos poucos, a fé se fortalece e se solidifica, abandonando essa

ambiguidade. Herança desse sincretismo talvez seja o grau de diálogo e o convívio de tolerância interreligiosa

que o país mantém hoje num ambiente multicultural, com mais de duzentos milhões de habitante

de diversidade étnica.

Tolerância e diálogo multicultural foi o tema de um encontro que ocorreu ano passado, durante a

Jornada Juventude Católica da Ásia, que reuniu vinte e nove países na Diocese Yogyakarta, na ilha de Java.

Taruno Setianto, Ignatius

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